Avaliação psiquiátrica é necessária mesmo depois da cirurgia bariátrica
Apesar da cirurgia bariátrica ter sido associada a aumento da sobrevida em estudos observacionais, o procedimento de perda de peso foi relacionado a um risco absoluto levemente aumentado de suicídio ou autoagressão não fatal (principalmente por overdose de drogas) em comparação com o tratamento de obesidade não-cirúrgico em duas grandes coortes.
"Apesar do achado de um risco aumentado de suicídio, não acreditamos que esses resultados devam desencorajar o uso da cirurgia bariátrica, pelo menos não sob uma perspectiva de sobrevivência" (...) "importante ressaltar: embora o risco relativo de suicídio seja alto, o risco absoluto é baixo"escrevem Martin Neovius, do Karolinska Institute, em Estocolmo, e colaboradores. Em números, 42 suicídios em mais de 117.000 pessoas-anos de seguimento, referem.
Diferenças absolutas, particularmente em suicídios, foram pequenas
O excesso de risco de autoagressão ou suicídio após a cirurgia não foi explicado pela perda de peso insuficiente ou pela recuperação do peso. Esse aumento poderia estar relacionados a variação no limiar de absorção de substancias. Por exemplo, o álcool é metabolizado pelo organismo de forma diferente após a cirurgia de by-passgástrico, assim os pacientes podem intoxicar-se mais rapidamente. As deficiências de micronutrientes ou macronutrientes que ocorrem após a cirurgia bariátrica também podem agravar a depressão ou a ansiedade.
Outra possibilidade diz respeito a alterações nos sistemas de sinalização de endocanabinoides e outras alterações neuroendócrinas que podem afetar o humor, a ansiedade e a depressão.
Ainda, os pacientes podem ter tido expectativas irreais sobre mudanças na forma corporal e na qualidade de vida após a cirurgia. "Alguns pacientes relatam forte insatisfação com os próprios corpos após a cirurgia por causa das dobras de pele secundárias a grandes reduções de peso", acrescentam.
As diretrizes internacionais para cirurgia bariátrica já enfatizam a seleção cuidadosa dos pacientes, "advertindo explicitamente sobre o uso abusivo de álcool e a dependência de drogas, distúrbios psicóticos não estabilizados, depressão grave e transtornos de personalidade e de alimentação, bem como pacientes incapazes de participar de um acompanhamento médico prolongado".
Adaptado de Lancet Diabetes Endocrinol. Publicado on-line em 9 de janeiro de 2018.